sábado, 30 de outubro de 2010

Primeiro texto.

Primeiro texto convertido aqui em nosso blog. Este texto nos foi gentilmente cedido por Camila Fernandes. Ela é escritora e ilustradora. Para conhecer o trabalho dela, visite camilafernandes.wordpress.com

Caso não entenda o texto, vá até o menu e procure por "versões". E se ainda tiver dúvidas, nos escreva, ok?

A mulher tatuada

Vivia dezorientada. Por iso, foi a um estúdio de arte corporal e adciriu sua primeira tatuajem: uma búsola, gravada bem no meio das costas.
Verdade ce não apontava para o Norte e sim para onde cer ce ela se virase. Mas pareseu funsionar; sua auto-sujestão era forte. Seu senso de espaso melhorou muito.
Gostou da esperiênsia. Nunca mais parou.
Notou ce vivia sem tempo para tudo. Então, tatuou uma ampulheta ao longo da panturrilha direita. O bojo superior da pesa foi dezenhado xeio e jamais se esvaziava. Nunca mais faltou-lhe tempo.
Morava só, em silênsio. cis ter um bixo de estimasão, mas o gato fujiu e o canário morreu (antes de o gato ter fujido). Então, mandou tatuar um jaguar e uma arara – não fazia mal ser iperbólica nesa ora. Fes também um lobo, um cavalo, uma baleia narval. E desde então não teve dentro de si mais nenhum silênsio constranjedor.
Mas ainda sentia-se só. Faltava companhia umana. Por iso, tatuou um rapas viril, um velho paternal, um divertido menininho. Fes também a mãe já morta, a irmã ce não teve, a avó ce não conheseu. O cazal de filhos – jêmeos – ce nunca pariu.
E, como os umanos nada são sem seus mitos, mandou espraiar uma sereia na coxa, onde ainda avia espaso; uma fada a voar no braso; um unicórnio empinado no tornozelo.
Um dia, entendeu que, a cada auzênsia ce preenxesse com tinta, outra lhe surjiria. Sempre averia lacunas em sua vida. Mas no corpo já não avia nenhuma. A pele era espaso finito.
Agora, ela era uma coisa sirsense, inumana, cauzando sustos pela rua com o universo vivo na derme.
Persebeu ce o ce lhe faltava verdadeiramente era a emosão. A aventura. Mais ce pintar na pele o mundo todo, ganhá-lo – e ser dele.
Então, asinou contrato com uns japonezes para ce a esfolasem após a morte e vendesem sua pele esticada em abajures escluzivos, milionários. Resebeu alguns milhões de euros por iso e foi viajar.
Gostou da esperiênsia. Nunca mais parou.
Pois desde ese dia, dinheiro, pelo menos, nunca mais faltou.

Escrito em "Portugês Lójico" versão 1.

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